O título da instalação remete, precisamente, ao texto de Stuart B. Schwartz (1989) Segredos Internos – engenhos e escravos na sociedade colonial.
Então, ao optar pelo tema histórico desenvolvido neste trabalho, acreditando na ação da atitude artística frente às nossas questões culturais. Nesta instalação, focalizo no momento da passagem do Antigo Estado à “Máquina Mercante”. Proponho uma união dramática de duas estruturas opostas, uma fusão que cristalize a ideia da crise, uma tensão. A proa de um navio – a Máquina Mercante com a mesa de refino de açúcar nos moldes coloniais – O Antigo Estado. Apresento a quebra, o rompimento trágico, o desequilíbrio promovido por estas duas ordens adversas.
Percorrendo a instalação, observamos que tal rompimento não é só sugerido. O lado direito da estrutura está associado ao Antigo Estado. Nesta parte, leio o processo preliminar do refino de açúcar “barreado”, aplicado no engenho, e reconstruo, através de elementos, um pouco da atmosfera da casa de purgar. Na extremidade da andaina, adapto, em níveis diferentes, três caixas de açúcar, no intuito de ressaltar a estratificação social existente à época, pela associação das Caras do Pão de Açúcar. Na primeira caixa, a primeira cara: o açúcar branco, associado à nobreza portuguesa e à sua clientela consumidora; a segunda cara: o açúcar mascavo, aos mulatos; e a última cara: a mais próxima do barro, ao escravo. O conceito de purgar é retomado como a imagem de Antonil, “sendo o Brasil, o purgatório dos brancos, o paraíso dos mulatos e o inferno dos negros”.
Ao centro da andaina, destroços de uma fôrma de pão-de- açúcar, garrafas de melaço de cana e barras de rapadura em processo de decomposição, como signos indiciais da crise promovida pela “máquina”.