Em 1995 ingressei na 3 turma do Mestrado em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA. O meu projeto de pesquisa era investigar a relação entre arte, história e cultura baiana através da poesia do Boca de Brasa. Foi ai que elaborei 4 instalações que remetia as práticas coloniais e escravistas a primeira foi : “À Bahia” – 1° Pressuposto do Açúcar.
Através da leitura que Alfredo Bosi faz do poema “À Bahia”, de Gregório de Mattos, inicia-se o meu desafio de reinterpretar a nossa história através de uma criação artística. Aprofundo-me no estudo elucidativo do soneto (que, popularmente, ficou conhecido pela versão musicada por Caetano Veloso, “Triste Bahia”):
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.
A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.
Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.
Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!
Chama-me a atenção a relação de auto-espelhamento do poeta pelo seu objeto de criação: a cidade da Bahia. Como o poeta se vê frente à sua terra, sua vida quase que um paralelo associado à história de sua cidade.
Elaboro um conceito: lirismo x ressentimento, que funcione, em princípio, como uma coluna estrutural necessária para associações de imagens que são estabelecidas por essa ambigüidade. Seleciono diversos materiais, tais como enxofre, mica, petróleo, besouros, óleo de cravo, formol, terra, mariposas, xerox, rapadura, tecido, madeira, azeite de dendê.
Depois eu conto mais…