As ações criativas que engendram os caminhos poéticos da obra de Ayrson Heráclito, formulam conceitos, interpretam oralidades, materializam e problematizam complexos sistemas simbólicos sobre a cultura afro-brasileira.
Através de uma investigação acadêmica inciada na década de 1990, o artista, sistematizou e elegeu três materiais orgânicos para pensar o ethos cultural de um corpo compreendido como afro-diaspórico: o açúcar, a carne de charque e o azeite de dendê.
Partindo do contexto histórico da colonização e da escravização de povos africanos no Brasil, expropriados da sua humanidade, para serem usados como mão de obra no cultivo e no refino da cana-de-açúcar, o artista começou a conceber o conceito de corpo afro-diaspórico.
Um número significativo de trabalhos sobre o açúcar, inaugura a formulação da ideia do corpo afro-diaspórico. Um corpo arrancado à força de seu Continente, atravessando o oceano – “Atlântico Negro” – e inserido em um projeto de pais construído pelas ações de desumanidade e violência, que nos deixaram de legado uma extremada desigualdade social e uma profunda pobreza.
Sobre a força e a resistência a que este corpo afro-diaspórico era submetido pelas sevícias dos seus “senhores”, surge uma série de trabalhos com a utilização da carne de charque, concebida como metáfora da luta e da resiliência. A carne de charque se apresenta como a materialização deste corpo e informa uma produção de trabalhos de quase duas décadas.
Este corpo afro-diaspórico tem como fluido vital o azeite de dendê. O dendê é o sangue ancestral, que oxigena e dá vida a este corpo, é a saliva que lubrifica a oralidade que faz este corpo falar e, é o sêmen dourado da divindade Exu, que procria e fertiliza.
Como artista, Heráclito transita em diferentes linguagens das artes visuais: pintura, desenho, escultura, fotografia, audiovisual, instalação e performance. Como professor do Centro de Artes e Humanidades e Letras da UFRB, sistematizou sua pesquisa na academia obtendo os títulos de Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo e Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia (na linha de pesquisa de História da Arte) o que também lhe credencia para o trabalho como curador de mostras e exposições.
A partir das três atividades distintas, embora relacionadas, Heráclito acumula diferentes incursões nessas áreas, pelas quais transita há mais de três décadas. Suas obras já foram expostas em espaço decisivos para os caminhos da arte na contemporaneidade, seja em espaços históricos do sistema das artes na Europa e EUA, seja em lugares de potência no chamado Sul Global do circuito contemporâneo da América Latina, África e Ásia.
Seus trabalhos já foram expostos na Bienal de Veneza, Itália (57ª edição, em 2017); no Fowler Museum, em Los Angeles, EUA; (2017), no European Centre for Contemporary Art, na Bélgica (2012); no Malba, Argentina (2010), na Kunst Film Biennial, Alemanha; na II Trienal de Luanda, em Angola; na 2a. Changjiang International Photography and Video Biennial, na China; no Weltkulturen Museum, Alemanha; em duas Bienais do Mercosul, a III e X, ambas no Brasil.
Também no Brasil, os trabalhos de Heráclito já foram apresentados em representativos espaços de exibição como o Museu de Arte do Rio (MAR/RJ), A Associação Cultural Videobrasil (SP), Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), Museu de Arte Contemporânea (MAC, RJ), Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ), Museu de Arte Moderna da Bahia (BA), SESC Pompeia (SP), Museu da Cidade (OCA, SP) e o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB, BSB).
Além disso, algumas de suas obras integram as coleções de museus e instituições como a Coleção Itaú Cultural (São Paulo, Brasil), O Instituto Inhotim (Brumadinho, Minas Gerais), o Museum der Weltkulturen (Frankfurt, Alemanha), o Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro, Brasil) a Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, Brasil), 0 Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (São Paulo, Brasil), a Raw Material Company (Dakar, Senegal) e o Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador, Brasil).
A lista completa e detalhada das exposições (individuais e coletivas) e das obras adquiridas, você encontra na área de exposições deste site.
Além da atenção do públicos e de diversos atores do sistema das artes, os trabalhos também têm capturado o interesse de críticos, teóricos e pesquisadores. Tanto daqueles que se dedicam à história da arte, quanto aqueles que investigam os processos criativos e suportes materiais contemporâneos e também de pesquisadores e críticos interessados nos processos políticos e discursivos da decolonialidade e no resgate crítico dos trânsitos coloniais históricos, fortemente presentes nas obras.
Já como artista pesquisador, produz reflexões e investiga diferentes aspectos da prática artística e da história da arte, desde a poética dos materiais e suas implicações políticas, até a crítica à pintura, além da notadamente presente ligação entre a espiritualidade religiosa e a produção de afetos na arte contemporânea.
Uma seleção destes textos sobre o artista, e aqueles produzidos por ele, pode ser encontrada na área de textos.